Ovos e seus efeitos para a saúde

Por mais de 25 anos, os ovos foram considerados os ícones do excesso de gordura, colesterol e calorias das dietas americanas. Por isso, durante todo esse tempo, houve a recomendação para se limitar a sua ingestão, com o objetivo de se reduzir o risco de doenças cardiovasculares (McNAMARA, 2000a). Com base nessas recomendações, o consumo anual de ovo nos Estados Unidos, entre 1970 e 1995, caiu 24% (FRAZAO, 1999). Entretanto, essa redução no consumo de ovo colaborou com apenas 3% na queda dos níveis plasmáticos de colesterol, observada no mesmo período (McNAMARA, 2000a).


Considerando-se os dados de uma meta-análise de 1997, a adição de um ovo por dia na dieta, aumenta os níveis de LDL-colesterol em 4,1mg/dL e de HDL-colesterol em 0,9mg/dL, com conseqüente alteração na razão LDL:HDL (entre 0,01 e 0,03) (CLARKE et al., 1997; McNAMARA, 2000a). Essas modestas mudanças na razão LDL:HDL-colesterol com a adição de um ovo por dia na dieta, são consistentes com os relatos epidemiológicos de que o consumo de ovo não está associado com a incidência de doenças cardiovasculares (McNAMARA, 2000b; SONG & KERNER, 2000). Hu e colaboradores (1999) observaram em seu estudo com 117 mil profissionais de saúde, que não há diferenças no risco relativo de doenças cardiovasculares entre indivíduos que consomem menos de 1 ovo por semana e indivíduos que consomem mais de 1 ovo por dia (HU et al., 1999). Ainda, Kritchevsky & Kritchevsky (2000) realizaram uma revisão de 7 estudos científicos que avaliaram a relação entre o consumo de ovos e as doenças cardiovasculares. Os autores observaram que o consumo de 1 ovo por dia não tem associação com o risco de doenças cardiovasculares.

OVOS & SUAS CARACTERÍSTICAS NUTRICIONAIS


O ovo é uma excelente fonte de importantes nutrientes: proteína de alto valor biológico, vitaminas (riboflavina, vitamina E, vitamina B6, vitamina A, ácido fólico, colina, vitamina K, vitamina D e vitamina B12) e minerais (zinco, cálcio, selênio, fósforo e ferro) (APPLEGATE, 2000).

Devido ao seu teor protéico, o ovo faz parte do grupo de alimentos das carnes, peixes e frangos (APPLEGATE, 2000). Ainda, devido a sua qualidade protéica, o ovo fornece todos os aminoácidos essenciais (LEMON, 2000).

Desta forma, considerando-se os efeitos do ovo nos níveis de colesterol plasmático e suas características nutricionais, não há justificativas científicas para se limitar o consumo de ovo. Entretanto, é importante se considerar a forma de preparo do alimento.


OVO & PERFIL PROTÉICO

 

Como já indicado anteriormente, o ovo tem uma excelente qualidade protéica, fato que lhe permite ser um alimento substituto de outros alimentos com proteína de alto valor biológico (como carnes vermelhas e frangos). Duas porções de ovos contribuem com cerca de 20% da RDA das necessidades diárias de proteínas (APPLEGATE, 2000), indicando sua importante contribuição para o consumo diário de proteínas.

Por outro lado, quando consumido em associação com outras fontes protéicas, como carne vermelha e frango, o ovo poderá contribuir para o aumento da ingestão de proteínas, que pode ser deletério à saúde. Sabe-se que o alto consumo dietético de proteínas pode comprometer a função renal (CANO et al., 2006; DUENHAS et al., 2003; AZADBAKHT et al., 2003; BUTANI et al., 2002) e a função hepática (DEBSKI et al., 2006; ULUSOY & EREN, 2006; PICHON et al., 2006; CANO et al., 200).


CONCLUSÃO


Devido ao seu perfil nutricional, o ovo deve fazer para da dieta da maioria os indivíduos, com exceção daqueles que apresentam alguma intolerância ou alergia individual. Entretanto, para se obter seus efeitos benéficos, é importante se considerar a técnica dietética aplicada durante seu processamento, bem como a ingestão protéica
diária total.

Referências Bibliográficas
1. APPLEGATE, E. Introduction: nutritional and functional roles of eggs in the diet. J Am Coll Nutr, 19: 495S–498S, 2000.
2. AZADBAKHT, L.; SHAKERHOSSEINI, R.; ATABAK, S.; et al. Beneficiary effect of dietary soy protein on lowering plasma levels of lipid and improving kidney function in type II diabetes with nephropathy. Eur J
Clin Nutr, 57(10):1292-4, 2003.
3. BUTANI, L.; POLINSKY, M.S.; KAISER, B,A.; BALUARTE, H.J. Dietary protein intake significantly affects the serum creatinine concentration. Kidney Int, 61(5):1907, 2002.
4. CANO, N.J.; FOUQUE, D.; LEVERVE, X.M. Application of branched-chain amino acids in human pathological states: renal failure. J Nutr, 136(1 Suppl):299S-307S, 2006.
5. CLARKE, R.; FROST, C.; COLLINS, R.; et al. Dietary lipids and blood cholesterol: Quantitative metaanalysis of metabolic ward studies. BMJ, 314:112–117, 1997.
6. DANIEL, D.R.; THOMPSON, L.D.; SHRIVER, B.J.; et al. Nonhydrogenated cottonseed oil can be used as a deep fat frying medium to reduce trans-fatty acid content in french fries. J Am Diet Assoc, 105 (12):1927-32, 2005.
7. DEBSKI, B.; BERTRANDT, J.; KLOS, A.; GRALAK, M. Influence of folic acid, vitamin B2 and B6 supplementation on feed intake, body and organs weight, and liver fatty acids composition in rats subjected to severe protein deprivation. Pol J Vet Sci, 9(3):185-90, 2006.
8. DUENHAS, M.R.; DRAIBE, S.A.; AVESANI, C.M.; et al. Influence of renal function on spontaneous dietary intake and on nutritional status of chronic renal insufficiency patients. Eur J Clin Nutr, 57 (11): 1473-8, 2003.
9. FRAZAO, E. “America’s Eating Habits. Changes and Consequences.” Washington, DC: USDA
Economic Research Service, 1999.
10. GEUKING, W. Congreso Y Exposición Latinoamericanos Sobre Processamiento De Grasas Y Acetes, 6, 1995, Campinas. Anais... Campinas, 1995.
11. HU, F.B.; STAMPFER, M.J.; RIMM, E.B.; et al. A prospective study of egg consumption and risk of cardiovascular disease in men and women. JAMA, 281:1387–1394, 1999.
12. KRITCHEVSKY, S.B.; KRITCHEVSKY, D.. Egg Consumption and Coronary Heart Disease: An Epidemiologic Overview. J Am Coll Nutr, 19(5): 549S–555S, 2000.
13. LEMON, P.W.R. Beyond the Zone: Protein Needs of Active Individuals. J Am Coll Nutr, 19(5): 513S– 521S, 2000.
14. MCNAMARA, D.J. The Impact of Egg Limitations on Coronary Heart Disease Risk: Do the Numbers Add Up? J Am Coll Nutr, 19(5): 540S–548S, 2000a.
15. MCNAMARA, D.J. Dietary cholesterol and atherosclerosis. Biochim Biophys Acta, 1529(1-3):310-20, 2000b.
16. PICHON, L.; HUNEAU, J.F.; FROMENTIN, G.; TOMÉ, D. A high-protein, high-fat, carbohydrate-free diet reduces energy intake, hepatic lipogenesis, and adiposity in rats. J Nutr, 136 (5): 1256-60, 2006.
17. SONG, W.O.; KERNER, J.M. Nutritional contribution of eggs to American diets. J Am CollNutr, 19: 556S–562S, 2000.
18. ULUSOY, E.; EREN, B. Histological changes of liver glycogen storage in mice (Mus musculus) caused by high-protein diets. Histol Histopathol, 21(9):925-30, 2006.